Tenho a dizer que, sendo oriunda de uma família de direita, nunca foi uma data efusivamente festejada por estes lados. Estou talvez a meter-me na boca do lobo ao falar no assunto, tendo em conta a grande discussão que se gerou aquando da eleição como maior português do Sr. António Oliveira. Mas recordem-se que apenas tenho o bolso à direita, sendo certo que o coração bate à esquerda. Pelo menos, tenho quase a certeza disto.
Porque foi o 25 de Abril importante? Ou melhor porque foi imprescindível?
Obviamente porque pôs fim a uma ditadura, sistema pouco simpático que atropela esse valor mais elevado que é a liberdade. Claro que todos conhecemos pessoas que glorificam o antigo regime por causa do pormenor da segurança, que supostamente existia no tempo da antiga senhora. Se existia ou não, não sei, porque nasci depois desse tempo. Parece-me contudo um preço elevado a pagar pela supressão da liberdade.
Mas, para mim, a revolução teve o seu peso decisivo para outro valor superior, que é o da igualdade.
A revolução teve um importante contributo para a emancipação das mulheres. Em 1977, foi aprovada legislação que revolucionou o direito da família em Portugal, pondo em pé de igualdade marido e mulher e pai e mãe. Acabou-se com a pouca vergonha da distinção entre filhos legítimos e ilegítimos. Fora deste campo, deu-se o direito de voto às mulheres, tardiamente para os padrões europeus. E se há direito maltratado nestes tempos é mesmo este, que custou tanto a obter.
Universalizou-se verdadeiramente o ensino. Criou-se uma classe média que manda, por regra, os filhos para a universidade. As mulheres estudam também no superior e os seus números aumentam grandemente.
Antes do 25 de Abril, poderia eu como filha de família pobre estudar? Sim, eventualmente até ao liceu. E chegar à universidade? Seria improvável. E ser advogada? Impossível, porque a advocacia e magistratura estavam vedadas às mulheres.
E só por isto já valeu a pena fazer-se uma revolução.